Nota de Imprensa
No interior da Fornalha Ardente
O Telescópio de Rastreio do VLT captura o Enxame da Fornalha
13 de Abril de 2016
Esta nova imagem, obtida pelo Telescópio de Rastreio do VLT (VST) instalado no Observatório do Paranal do ESO no Chile, mostra a concentração de galáxias conhecida por Enxame da Fornalha, que se situa na constelação da Fornalha no hemisfério sul. O enxame comporta uma quantidade de galáxias de todas as formas e tamanhos, algumas das quais escondem alguns segredos.
As galáxias parecem ser algo “sociais”, gostando de se juntar em grupos grandes, a que chamamos enxames. Na realidade é a gravidade que mantém as galáxias unidas num enxame, como se de uma única identidade se tratassem, com a força gravitacional a ser exercida tanto por grandes quantidades de matéria escura invisível como por galáxias que podemos ver. Os enxames contêm entre cerca de 100 a 1000 galáxias e podem ter dimensões que vão desde os 5 aos 30 milhões de anos-luz.
Os enxames de galáxias não têm formas claramente definidas, por isso é difícil determinar exatamente quando começam e quando acabam. No entanto, os astrónomos estimam que o centro do Enxame da Fornalha se encontra numa região situada a 65 milhões de anos-luz de distância da Terra. O que sabemos com mais precisão é que este enxame contém quase 60 galáxias grandes e um número semelhante de galáxias anãs mais pequenas. Os enxames de galáxias como este são bastante comuns no Universo e ilustram bem a influência poderosa que a gravidade exerce ao longo de grandes distâncias, conseguindo juntar as massas enormes de galáxias individuais numa só região.
No centro deste enxame, no meio dos três glóbulos difusos brilhantes que podem ser vistos à esquerda da imagem, encontra-se uma galáxia cD — uma canibal galáctica. As galáxias cD como esta, chamada NGC 1399, parecem-se com galáxias elípticas mas são maiores e possuem envelopes extensos e ténues [1]. Isto acontece porque se formaram ao “engolir” galáxias mais pequenas, trazidas para o centro do enxame pela força da gravidade [2].
Há na realidade evidências deste processo estar a ocorrer mesmo à nossa frente. Trabalho recente levado a cabo por uma equipa de astrónomos liderada por Enrichetta Iodice (INAF - Osservatorio di Capodimonte, Nápoles, Itália) [3], que fez uso de dados do VST do ESO, revelou uma ponte de luz muito ténue entre a NGC 1399 e a galáxia mais pequena que se encontra à sua direita, a NGC 1387. Esta ponte, que não tinha sido ainda observada (e é ténue demais para poder ser vista na imagem), é ligeiramente mais azul que qualquer das galáxias, indicando que é constituída por estrelas formadas a partir de gás retirado da NGC 1387 pela atração gravitacional da NGC 1399. Apesar de haver, de modo geral, poucas evidências de interação no Enxame da Fornalha, parece que pelo menos a NGC 1399 ainda continua a “alimentar-se” das suas vizinhas.
Em baixo à direita na imagem podemos ver uma enorme galáxia espiral barrada, a NGC 1365, que se trata de um belo exemplar de galáxias deste tipo, com a barra proeminente a passar através do núcleo central e os braços em espiral a saírem das pontas da barra. Refletindo a natureza das galáxias de enxame, também a NGC 1365 é mais do que parece. Esta galáxia foi classificada como uma galáxia do tipo Seyfert, possuindo um núcleo ativo brilhante que contém um buraco negro supermassivo no seu interior.
Esta imagem foi obtida com o Telescópio de Rastreio do VLT (VST) montado no Observatório do Paranal do ESO no Chile. Com 2,6 metros de diâmetro, o VST não é de modo nenhum um telescópio grande pelos padrões atuais, no entanto foi concebido especificamente para fazer rastreios do céu a larga escala. O que o torna especial é o seu enorme campo de visão corrigido e a sua câmara de 256 megapixels, a OmegaCAM, que foi especialmente desenvolvida para mapear o céu. Com esta câmara, o VST consegue produzir imagens profundas de grandes áreas no céu muito rapidamente, deixando a exploração dos pormenores de objetos individuais para telescópios realmente grandes, como o Very Large Telescope do ESO (VLT).
Notas
[1] A imagem captura apenas as regiões centrais do Enxame da Fornalha, que na realidade se estende ao longo de uma maior região no céu.
[2] A galáxia central é geralmente a mais brilhante do enxame, mas neste caso a galáxia mais brilhante, a NGC 1316, situa-se na periferia do enxame, mesmo para lá da área coberta por esta imagem. Também conhecida por Fornax A, esta galáxia é uma das mais poderosas fontes de ondas rádio no céu. As ondas rádio, que podem ser observadas por telescópios próprios, sensíveis a este tipo de radiação, emanam de dois enormes lóbulos que se estendem até muito longe no espaço, de cada lado da galáxia visível. A energia que dá origem a esta emissão rádio vem de um buraco negro supermassivo que se encontra no centro da galáxia e que emite dois jactos opostos de partículas de alta energia. Estes jactos produzem ondas rádio quando atingem o gás rarefeito que ocupa o espaço entre as galáxias do enxame.
[3] O artigo científico intitulado “The Fornax Deep Survey with VST. I. The extended and diffuse stellar halo of NGC1399 out to 192 kpc” de E. Iodice, M. Capaccioli , A. Grado , L. Limatola, M. Spavone, N.R. Napolitano, M. Paolillo, R. F. Peletier, M. Cantiello, T. Lisker, C. Wittmann, A. Venhola , M. Hilker , R. D’Abrusco, V. Pota e P. Schipani foi publicado na revista da especialidade Astrophysical Journal.
Informações adicionais
O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é de longe o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 16 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça, assim como pelo Chile, o país de acolhimento. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e operação de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o observatório astronómico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é um parceiro principal no ALMA, o maior projeto astronómico que existe atualmente. E no Cerro Armazones, próximo do Paranal, o ESO está a construir o European Extremely Large Telescope (E-ELT) de 39 metros, que será “o maior olho do mundo virado para o céu”.
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Sobre a Nota de Imprensa
Nº da Notícia: | eso1612pt |
Nome: | Fornax Cluster |
Tipo: | Local Universe : Galaxy : Grouping : Cluster |
Facility: | VLT Survey Telescope |
Instrumentos: | OmegaCAM |
Science data: | 2016ApJ...820...42I |