Nota de Imprensa
Caçada XXL de Enxames de Galáxias
Observações obtidas com os telescópios do ESO fornecem terceira dimensão crucial para sondar o lado escuro do Universo
15 de Dezembro de 2015
Os telescópios do ESO forneceram a uma equipa internacional de astrónomos a terceira dimensão na maior caçada de sempre das maiores estruturas gravitacionalmente ligadas do Universo — os enxames de galáxias. Observações obtidas pelo VLT e pelo NTT complementam as capturadas por outros observatórios em todo o globo e no espaço, no âmbito do rastreio XXL — uma das maiores buscas destes enxames.
Os enxames de galáxias são aglomerações massivas de galáxias que albergam enormes reservatórios de gás quente — as temperaturas são tão elevadas que se produzem raios X. Estas estruturas são úteis para os astrónomos porque se pensa que a sua construção é influenciada pelas componentes mais estranhas do Universo — a matéria escura e a energia escura. Por isso, ao estudar as suas propriedades em diferentes fases da história do Universo, os enxames de galáxias podem ajudar-nos a compreender melhor o lado escuro do Universo.
A equipa, composta por mais de 100 astrónomos de todo o mundo, começou uma busca destes monstros cósmicos em 2011. Apesar da radiação de raios X de alta energia que revela a sua localização ser absorvida pela atmosfera terrestre, podemos detectá-la com a ajuda de observatórios de raios X colocados no espaço. Assim, combinou-se um rastreio realizado pelo XMM-Newton da ESA — executado com a maior quantidade de tempo de observação alguma vez concedido neste telescópio — com observações do ESO e doutros observatórios. O resultado é uma enorme e crescente coleção de dados que cobre todo o espectro electromagnético [1], colectivamente chamada rastreio XXL.
“O objetivo principal do rastreio XXL é fornecer uma amostra bem definida de cerca de 500 enxames de galáxias até uma distância correspondente a uma idade do Universo de cerca de metade da sua idade atual,” explica a investigadora principal do XXL, Marguerite Pierre do CEA, Saclay, França.
O telescópio XMM-Newton fez imagens de duas zonas do céu — cada uma com cem vezes a área da Lua Cheia — numa tentativa de descobrir um grande número de enxames de galáxias previamente desconhecidos. A equipa do rastreio XXL divulgou agora os seus resultados numa série de artigos científicos sobre os 100 enxames mais brilhantes descobertos [2].
Observações obtidas com o instrumento EFOSC2 instalado no New Technology Telescope (NTT), juntamente com observações do instrumento FORS montado no Very Large Telescope do ESO (VLT), foram também utilizadas para analisar de modo cuidado a radiação emitida pelas galáxias no seio destes enxames de galáxias. Estas observações permitiram aos astrónomos medir as distâncias precisas aos enxames de galáxias, dando-nos assim uma vista tridimensional do cosmos, absolutamente necessária para fazer medições da matéria escura e da energia escura [3].
Espera-se que o rastreio XXL produza muitos resultados excitantes e inesperados, mas apenas com um quinto dos dados que se esperam obter no final, obtiveram-se já alguns resultados importantes e surpreendentes.
Um dos artigos científicos relata a descoberta de cinco novos superenxames — enxames de enxames de galáxias — a juntar aqueles já conhecidos, tais como o nosso próprio superenxame, o Superenxame Laniakea.
Outro artigo trata de observações de seguimento obtidas para um enxame de galáxias em particular (conhecido pelo nome informal de XLSSC-116), situado a cerca de seis mil milhões de anos-luz de distância [4]. Com o instrumento MUSE do VLT observou-se neste enxame uma fonte de luz difusa invulgarmente brilhante.
“Esta é a primeira vez que conseguimos estudar com detalhe a radiação difusa de um enxame de galáxias distante, pondo assim em evidência o poder do MUSE neste tipo de estudos,” explicou o co-autor Christoph Adami do Laboratoire d´Astrophysique, Marseille, França.
A equipa utilizou também os dados para confirmar a ideia de que no passado os enxames de galáxias são muito mais pequenos que os que observamos atualmente — uma descoberta importante para a compreensão teórica da evolução dos enxames ao longo da vida do Universo.
O simples ato de contar os enxames de galáxias nos dados XXL confirmou também um resultado anterior algo estranho — existem menos enxames distantes do que o esperado com base nas predições dos parâmetros cosmológicos medidos pelo telescópio Planck da ESA. A razão desta discrepância não é conhecida, no entanto a equipa espera resolver esta curiosidade cosmológica quando tiver acesso à amostra total de enxames em 2017.
Estes quatro resultados importantes são apenas o preâmbulo do que ainda está para vir deste enorme rastreio de alguns dos mais massivos objetos do Universo.
Notas
[1] O rastreio XXL combinou dados de arquivo com novas observações de enxames de galáxias, cobrindo assim um domínio de comprimentos de onda que vai de 1x10-4 μm (raios X, observados com o XMM) a mais de 1 metro (submilimétrico, observado com o Giant Metrewave Radio Telescope [GMRT]).
[2] Os enxames de galáxias de que tratam os 13 artigos científicos encontram-se a desvios para o vermelho entre z = 0,05 e z = 1,05, o que corresponde a uma idade do Universo entre 13 e 5,7 mil milhões de anos, respectivamente.
[3] Para estudar os enxames de galáxias é necessário conhecer a sua distância precisa. Embora distâncias aproximadas — desvios para o vermelho fotométricos — possam ser medidas por análise das suas cores a diferentes comprimentos de onda, são necessários desvios para o vermelho espectroscópicos mais precisos. Estes desvios para o vermelho foram também obtidos nos dados de arquivo, como parte do rastreio VIPERS (VIMOS Public Extragalactic Redshift Survey), do rastreio VVDS (VIMOS-VLT Deep Survey) e do rastreio GAMA.
[4] Este enxame de galáxias foi encontrado a um desvio para o vermelho z = 0,543.
Informações adicionais
Uma descrição do rastreio e alguns dos resultados científicos anteriores foram descritos numa série de artigos científicos que serão publicados a 15 de dezembro de 2015 na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics.
Uma listagem completa de toda a equipa XXL pode ser encontrada neste link.
O XXL é um projeto internacional baseado no XMM Very Large Programme que mapeia fontes pontuais em dois campos extragalácticos de 25 graus quadrados cada um, com uma profundidade de ~5 x 10-15 erg cm-2 s-1 na banda [0,5 - 2] keV. O site do XXL é http://irfu.cea.fr/xxl. Informação multi-banda e seguimento espectroscópico das fontes de raios X são obtidos através de uma quantidade de programas de rastreio, sumariados em http://xxlmultiwave.pbworks.com/.
O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é de longe o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 16 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça, assim como pelo Chile, o país de acolhimento. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e operação de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o observatório astronómico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é um parceiro principal no ALMA, o maior projeto astronómico que existe atualmente. E no Cerro Armazones, próximo do Paranal, o ESO está a construir o European Extremely Large Telescope (E-ELT) de 39 metros, que será “o maior olho do mundo virado para o céu”.
Links
Contactos
Marguerite Pierre
CEA
Saclay, France
Email: marguerite.pierre@cea.fr
Richard Hook
ESO Public Information Officer
Garching bei München, Germany
Tel: +49 89 3200 6655
Telm: +49 151 1537 3591
Email: rhook@eso.org
Margarida Serote (Contacto de imprensa em Portugal)
Rede de Divulgação Científica do ESO
e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço,
Tel: +351 964951692
Email: eson-portugal@eso.org
Sobre a Nota de Imprensa
Nº da Notícia: | eso1548pt |
Nome: | XXL-South Field |
Tipo: | Early Universe : Galaxy : Grouping : Cluster Early Universe : Cosmology |
Facility: | ESA XMM-Newton, New Technology Telescope, Very Large Telescope |
Instrumentos: | EFOSC2, FORS2 |
Science data: | 2016A&A...592A...7A 2016A&A...592A...6P 2016A&A...592A...4L 2016A&A...592A...2P 2016A&A...592A...1P |