Nota de Imprensa
Surpresa poeirenta em torno de um buraco negro gigante
20 de Junho de 2013
O interferómetro do Very Large Telescope do ESO obteve as observações mais detalhadas de sempre da poeira situada em torno do enorme buraco negro que se encontra no centro de uma galáxia activa. Em vez de encontrar toda a poeira brilhante num toro em forma de donut circundando o buraco negro, os astrónomos descobriram que muita desta poeira se encontra acima e abaixo do toro. Estas observações mostram que a poeira está a ser empurrada para longe do buraco negro sob a forma de vento frio - uma descoberta surpreendente que desafia as actuais teorias e nos diz como é que um buraco negro de elevada massa evolui e interage com o meio que o circunda.
Nos últimos vinte anos, os astrónomos descobriram que quase todas as galáxias têm um enorme buraco negro no seu centro. Alguns destes buracos negros estão em fase de crescimento sugando matéria do meio circundante e dando origem neste processo aos objectos mais energéticos do Universo: os núcleos activos de galáxias (NAGs). As regiões centrais destas brilhantes centrais de energia encontram-se rodeadas por donuts de poeira cósmica [1] arrancada ao espaço circundante, um pouco como a água dá origem a um redemoinho em torno do ralo de um lava-loiças. Pensa-se que a maior parte da intensa radiação infravermelha emitida pelos NAGs tem origem nestes donuts.
No entanto, novas observações de uma galáxia activa próxima chamada NGC 3783, obtidas por uma equipa internacional de astrónomos, com o auxílio do Interferómetro do Very Large Telescope (VLTI) no Observatório do Paranal do ESO, no Chile [2], surpreenderam a equipa. Embora a poeira quente - com uma temperatura de cerca de 700 a 1000 graus Celsius - apresente, de facto, a forma de um toro como o esperado, encontraram-se igualmente enormes quantidades de poeira mais fria acima e abaixo do toro principal [3].
Como explica Sebastian Hönig (University of California Santa Barbara, USA e Christian-Albrechts-Universität zu Kiel, Alemanha), autor principal do artigo que descreve estes resultados, “Esta é a primeira vez que conseguimos combinar observações detalhadas no infravermelho médio da poeira fria, ie. à temperatura ambiente, em torno de um NAG com observações igualmente detalhadas da poeira muito quente. Estas observações representam igualmente a maior coleção de dados de um NAG obtidos no infravermelho pelo método de interferometria, publicados até à data.”
A poeira recém descoberta forma um vento frio que sopra para longe do buraco negro. Este vento deve desempenhar um papel importante na relação complexa entre o buraco negro e o meio circundante. O buraco negro sacia o seu apetite devorador com material circundante, mas a intensa radiação que produz nesse processo parece estar ao mesmo tempo a afastar o material. Não é ainda claro como é que estes dois processos interagem, permitindo ao buraco negro crescer e evoluir no coração das galáxias, mas a presença de um vento de poeira acrescenta uma nova peça a este cenário.
De modo a investigar as regiões centrais da NGC 3783, os astrónomos necessitaram de combinar o poder dos Telescópios Principais do Very Large Telescope do ESO. Utilizando estes telescópios em uníssono formamos um interferómetro que consegue obter uma resolução equivalente à de um telescópio de 130 metros de diâmetro.
Outro membro da equipa, Gerd Weigelt (Max-Planck-Institut für Radioastronomie, Bona, Alemanha), explica,”Ao combinarmos a excelente sensibilidade dos espelhos grandes do VLT pelo método da interferometria, conseguimos colectar radiação suficiente para observar objectos ténues, o que nos permite estudar uma região tão pequena quanto a distância do Sol à estrela mais próxima, e isto numa galáxia a dezenas de milhões de anos-luz de distância. Nenhum outro sistema óptico ou infravermelho actualmente em existência seria capaz deste feito.”
Estas novas observações podem levar a alterações na compreensão dos NAGs. Temos agora uma evidência directa de que a poeira está a ser empurrada pela radiação intensa. Os modelos que prevêem como é que a poeira se distribui e como é que os buracos negros crescem e evoluem têm que, a partir de agora, levar em linha de conta este efeito recém descoberto.
Hönig conclui, “Tenho uma grande expectativa relativamente ao MATISSE, que permitirá combinar os quatro Telescópios Principais do VLT ao mesmo tempo e observar simultaneamente no infravermelho próximo e médio, o que nos dará dados muito mais detalhados.” O MATISSE, um instrumento de segunda geração para o VLTI, está actualmente a ser construído.
Notas
[1] A poeira cósmica é composta por grãos de silicatos e grafite, minerais que são igualmente abundantes na Terra. A fuligem é muito semelhante à grafite da poeira cósmica, embora o tamanho dos grãos na fuligem seja dez ou mais vezes maior que o tamanho típico dos grãos de grafite cósmica.
[2] O VLTI é formado pela combinação dos quatro Telescópios Principais do VLT, de 8,2 metros, ou pela combinação dos quatro Telescópios Auxiliares amovíveis, de 1,8 metros. Utiliza-se uma técnica chamada interferometria, onde instrumentação sofisticada combina numa única observação a luz colectada pelos vários telescópios. Embora não se produzam imagens propriamente ditas, esta técnica aumenta drasticamente o nível de detalhes que se podem medir nos dados, comparável ao que um telescópio espacial com um diâmetro de 100 metros permitiria.
[3] A poeira mais quente foi mapeada com o auxílio do instrumento AMBER do VLTI, nos comprimentos de onda do infravermelho e as novas observações aqui descritas utilizaram o instrumento MIDI nos comprimentos de onda do infravermelho entre os 8 e os 13 micrómetros.
Informações adicionais
Este trabalho foi descrito num artigo científico intitulado “Dust in the Polar Region as a Major Contributor to the Infrared Emission of Active Galactic Nuclei”, de S. Hönig et al.,, que será publicado na revista da especialidade Astrophysical Journal a 20 de junho de 2013.
A equipa é composta por S. F. Hönig (University of California in Santa Barbara, EUA [UCSB]; Christian-Albrechts-Universität zu Kiel, Alemanha), M. Kishimoto (Max-Planck-Institut für Radioastronomie, Bona, Alemanha [MPIfR]), K. R. W. Tristram (MPIfR), M. A. Prieto (Instituto de Astrofísica de Canarias, Tenerife, Espanha), P. Gandhi (Instituto de Ciências do Espaço e Astronáutica, Kanawaga, Japão; University of Durham, United Kingdom), D. Asmus (MPIfR), R. Antonucci (UCSB), L. Burtscher (Max-Planck-Institut für extraterrestrische Physik, Garching, Alemanha), W. J. Duschl (Institut für Theoretische Physik und Astrophysik, Christian-Albrechts-Universität zu Kiel, Alemanha) e G. Weigelt (MPIfR).
O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 15 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e funcionamento de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta, no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o observatório astronómico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é o parceiro europeu do revolucionário telescópio ALMA, o maior projeto astronómico que existe atualmente. O ESO encontra-se a planear o European Extremely Large Telescope, E-ELT, um telescópio de 39 metros que observará na banda do visível e do infravermelho próximo. O E-ELT será “o maior olho no céu do mundo”.
Links
- Artigo científico
- Fotografias do VLT
- Informação sobre o Interferómetro do Very Large Telescope (VLTI)
Contactos
Sebastian Hönig
University of California Santa Barbara
USA
Tel: +49 431 880 4108
Telm: +49 176 9995 0941
Email: shoenig@physics.ucsb.edu
Poshak Gandhi
University of Durham
United Kingdom
Email: poshak.gandhi@durham.ac.uk
Gerd Weigelt
Max-Planck-Institut für Radioastronomie
Bonn, Germany
Email: weigelt@mpifr.de
Wolfgang Duschl
Christian-Albrechts-Universität zu Kiel
Kiel, Germany
Email: wjd@astrophysik.uni-kiel.de
Richard Hook
ESO
Garching bei München, Germany
Tel: +49 89 3200 6655
Telm: +49 151 1537 3591
Email: rhook@eso.org
Margarida Serote (Contacto de imprensa em Portugal)
Rede de Divulgação Científica do ESO
e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço,
Tel: +351 964951692
Email: eson-portugal@eso.org
Sobre a Nota de Imprensa
Nº da Notícia: | eso1327pt |
Nome: | NGC 3783 |
Tipo: | Local Universe : Galaxy : Activity : AGN Local Universe : Galaxy : Component : Central Black Hole |
Facility: | Very Large Telescope, Very Large Telescope Interferometer |
Instrumentos: | MIDI, VISIR |
Science data: | 2013ApJ...771...87H |
Our use of Cookies
We use cookies that are essential for accessing our websites and using our services. We also use cookies to analyse, measure and improve our websites’ performance, to enable content sharing via social media and to display media content hosted on third-party platforms.
ESO Cookies Policy
The European Organisation for Astronomical Research in the Southern Hemisphere (ESO) is the pre-eminent intergovernmental science and technology organisation in astronomy. It carries out an ambitious programme focused on the design, construction and operation of powerful ground-based observing facilities for astronomy.
This Cookies Policy is intended to provide clarity by outlining the cookies used on the ESO public websites, their functions, the options you have for controlling them, and the ways you can contact us for additional details.
What are cookies?
Cookies are small pieces of data stored on your device by websites you visit. They serve various purposes, such as remembering login credentials and preferences and enhance your browsing experience.
Categories of cookies we use
Essential cookies (always active): These cookies are strictly necessary for the proper functioning of our website. Without these cookies, the website cannot operate correctly, and certain services, such as logging in or accessing secure areas, may not be available; because they are essential for the website’s operation, they cannot be disabled.
Functional Cookies: These cookies enhance your browsing experience by enabling additional features and personalization, such as remembering your preferences and settings. While not strictly necessary for the website to function, they improve usability and convenience; these cookies are only placed if you provide your consent.
Analytics cookies: These cookies collect information about how visitors interact with our website, such as which pages are visited most often and how users navigate the site. This data helps us improve website performance, optimize content, and enhance the user experience; these cookies are only placed if you provide your consent. We use the following analytics cookies.
Matomo Cookies:
This website uses Matomo (formerly Piwik), an open source software which enables the statistical analysis of website visits. Matomo uses cookies (text files) which are saved on your computer and which allow us to analyze how you use our website. The website user information generated by the cookies will only be saved on the servers of our IT Department. We use this information to analyze www.eso.org visits and to prepare reports on website activities. These data will not be disclosed to third parties.
On behalf of ESO, Matomo will use this information for the purpose of evaluating your use of the website, compiling reports on website activity and providing other services relating to website activity and internet usage.
Matomo cookies settings:
Additional Third-party cookies on ESO websites: some of our pages display content from external providers, e.g. YouTube.
Such third-party services are outside of ESO control and may, at any time, change their terms of service, use of cookies, etc.
YouTube: Some videos on the ESO website are embedded from ESO’s official YouTube channel. We have enabled YouTube’s privacy-enhanced mode, meaning that no cookies are set unless the user actively clicks on the video to play it. Additionally, in this mode, YouTube does not store any personally identifiable cookie data for embedded video playbacks. For more details, please refer to YouTube’s embedding videos information page.
Cookies can also be classified based on the following elements.
Regarding the domain, there are:
- First-party cookies, set by the website you are currently visiting. They are stored by the same domain that you are browsing and are used to enhance your experience on that site;
- Third-party cookies, set by a domain other than the one you are currently visiting.
As for their duration, cookies can be:
- Browser-session cookies, which are deleted when the user closes the browser;
- Stored cookies, which stay on the user's device for a predetermined period of time.
How to manage cookies
Cookie settings: You can modify your cookie choices for the ESO webpages at any time by clicking on the link Cookie settings at the bottom of any page.
In your browser: If you wish to delete cookies or instruct your browser to delete or block cookies by default, please visit the help pages of your browser:
Please be aware that if you delete or decline cookies, certain functionalities of our website may be not be available and your browsing experience may be affected.
You can set most browsers to prevent any cookies being placed on your device, but you may then have to manually adjust some preferences every time you visit a site/page. And some services and functionalities may not work properly at all (e.g. profile logging-in, shop check out).
Updates to the ESO Cookies Policy
The ESO Cookies Policy may be subject to future updates, which will be made available on this page.
Additional information
For any queries related to cookies, please contact: pdprATesoDOTorg.
As ESO public webpages are managed by our Department of Communication, your questions will be dealt with the support of the said Department.