Nota de Imprensa
Identificada Bomba Relógio Estelar em Contagem Decrescente
Astrónomos encontram suspeito principal de uma Supernova de Tipo Ia
17 de Novembro de 2009
Utilizando o Very Large Telescope do ESO, com uma capacidade de obter imagens tão nítidas como se fossem obtidas a partir do espaço, os astrónomos construíram o primeiro filme de uma invulgar concha de matéria ejectada por uma “estrela vampiro” que, em Novembro de 2000, sofreu uma explosão depois de ter sugado parte da matéria da sua estrela companheira. Os astrónomos conseguiram determinar a distância e o brilho intrínseco do objecto em explosão. Pensa-se que este sistema de estrela dupla é um candidato principal, longamente procurado, a progenitor de estrelas em explosão conhecidas como supernovas de tipo Ia, objectos estes que são cruciais nos estudos de energia escura.
“Um dos principais problemas na astronomia moderna é o facto de ainda não sabermos exactamente que tipo de sistema estelar explode sob a forma de supernova de tipo Ia,” diz Patrick Woudt, da Universidade da Cidade do Cabo, autor principal do artigo que descreve estes resultados. “O que é aborrecido, uma vez que estas supernovas têm um papel determinante no sentido de mostrar que a expansão do Universo está actualmente em aceleração, devido à energia escura.”
Os astrónomos estudaram o objecto conhecido como V445 na constelação de Puppis (Popa) com bastante rigor. V445 Puppis é a primeira, e até agora a única, nova que não mostra evidências de hidrogénio. Faculta-nos a primeira evidência de uma explosão na superfície de uma anã branca dominada por hélio. “Isto é crucial, já que sabemos que as supernovas de tipo Ia apresentam um défice de hidrogénio,” diz o co-autor Danny Steeghs, da Universidade de Warwick, Reino Unido, “e a estrela companheira da V445 Puppis também apresenta deficiência em hidrogénio, contribuindo principalmente com hélio para a anã branca.”
Em Novembro de 2000, este sistema sofreu uma explosão do tipo nova, tornando-se 250 vezes mais brilhante que anteriormente e ejectando uma grande quantidade de matéria para o espaço.
A equipa de astrónomos utilizou o instrumento de óptica adaptativa NACO [1], montado no Very Large Telescope do ESO (VLT), para obter imagens muito nítidas da V445 Puppis durante um período de dois anos. As imagens mostram uma concha bipolar, inicialmente com uma cintura muito fina, e com lóbulos de cada lado. Dois nodos observados em ambos os extremos da concha, parecem deslocar-se cerca de 30 milhões de quilómetros por hora. A concha - diferente de todas as observadas até agora em novas - encontra-se ela própria em movimento, deslocando-se cerca de 24 milhões de quilómetros por hora. As duas estrelas centrais estão obscurecidas por um disco espesso de poeira, que parece ter sido formado durante a última explosão.
“O incrível detalhe com que podemos observar escalas tão pequenas - cerca de cem milésimas de segundos de arco, o que equivale ao tamanho aparente de uma moeda de um euro vista a cerca de 40 quilómetros de distância - é apenas possível graças à tecnologia de óptica adaptativa disponível em grandes telescópios terrestres como o VLT do ESO,” diz Steeghs.
Uma supernova é um dos processos pelo qual uma estrela termina a sua vida, explodindo numa mostra grandiosa de fogos de artifício. Uma família de supernovas, chamadas supernovas de tipo Ia, desperta particular interesse no campo da cosmologia já que estes objectos podem ser usados como “velas padrão” no cálculo de distâncias no Universo [2]. Utilizam-se por isso para calibrar a expansão em aceleração, que se deve à energia escura.
Uma característica que define as supernovas de tipo Ia é a falta de hidrogénio no seu espectro. Sabe-se, no entanto, que o hidrogénio é o elemento químico mais abundante no Universo. Tais supernovas serão, muito provavelmente, produzidas em sistemas compostos por duas estrelas, onde uma delas é o produto final da vida de estrelas do tipo do Sol, as anãs brancas [3]. Quando estas anãs brancas se comportam como vampiros estelares sugando matéria da estrela companheira, acabam por se tornar mais pesadas que determinado limite, o que as torna instáveis e consequentemente explodem [4].
O acumular desta matéria a mais não é um processo simples. À medida que a anã branca canibaliza a sua presa, a matéria acumula-se na sua superfície. Se esta camada se tornar demasiado densa, a estrela torna-se instável e irrompe como uma nova. Estas mini-explosões controladas ejectam parte do material acumulado de volta ao espaço. Portanto, a pergunta crucial é saber se a anã branca consegue acumular peso apesar destas explosões, ou seja, se alguma da matéria retirada à estrela companheira permanece na anã branca, de modo a que ela se torne eventualmente suficientemente pesada para explodir como supernova.
Combinando as imagens do NACO com dados obtidos por vários outros telescópios [5] os astrónomos puderam determinar a distância ao sistema - a cerca de 25 000 anos-luz de distância do Sol - e o seu brilho intrínseco - mais de 10 000 vezes mais brilhante que o Sol. Estes valores indicam que a anã branca vampiro deste sistema tem uma massa elevada, que está próxima do limite fatal e ao mesmo tempo continua a ser alimentada a elevada taxa pela sua companheira. “Se a V445 Puppis vai eventualmente explodir como supernova, ou se a actual explosão de nova já fez com que esse fenómeno não se produza ao ejectar demasiada matéria de volta ao espaço é algo que ainda não sabemos,” diz Woudt. “No entanto, temos um muito bom candidato a futura supernova de tipo Ia!”
Notas
[1] A óptica adaptativa é uma técnica que permite aos astrónomos obter uma imagem de um objecto livre da turbulência atmosférica. Veja a página do ESO sobre óptica adaptativa:
http://www.eso.org/public/teles-instr/technology/adaptive_optics.html
[2] Ver por exemplo http://www.eso.org/~bleibund/papers/EPN/epn.html
[3] As anãs brancas representam o produto final da evolução de estrelas com massas iniciais não superiores a algumas massas solares. Uma anã branca é composta por um núcleo estelar em final de combustão, abandonado quando uma estrela como o Sol ejecta as camadas exteriores no final da sua vida activa. Este núcleo é composto essencialmente por carbono e oxigénio. Este processo normalmente dá origem à formação de uma nebulosa planetária.
[4] Este limite de Chandrasekhar, assim chamado devido ao físico indiano Subrahmanyan Chandrasekhar, é quase 1.4 vezes a massa do Sol. Quando a anã branca atinge uma massa superior a este limite, ou sugando matéria de uma estrela companheira ou juntando-se com outra anã branca, transforma-se numa bomba termonuclear que queimará carbono e oxigénio de maneira explosiva.
[5] A equipa utilizou também o instrumento SOFI montado no New Technology Telescope do ESO, o espectrógrafo IMACS do telescópio Magellan Baade de 6.5 metros, e a Infrared Survey Facility e a câmara SIRIUS na estação Sutherland do Observatório Astronómico da África do Sul.
Informações adicionais
Esta trabalho foi apresentado num artigo que sairá a 20 de Novembro de 2009 na revista da especialidade Astrophysical Journal, vol. 706, p. 738 (“The expanding bipolar shell of the helium nova V445 Puppis”, por P. A. Woudt et al.).
A equipa é composta por P. A. Woudt e B. Warner (Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul), D. Steeghs e T. R. Marsh (Universidade de Warwick, Reino Unido), M. Karovska e G. H. A. Roelofs (Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, Cambridge MA, USA), P. J. Groot e G. Nelemans (Radboud University Nijmegen, Holanda), T. Nagayama (Universidade de Kyoto, Japão), D. P. Smits (Universidade da África do Sul, África do Sul), e T. O’Brien (Universidade de Manchester, Reino Unido).
O ESO, o Observatório do Sul Europeu, é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 14 países: Áustria, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Itália, Holanda, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e funcionamento de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta, no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope, o observatório astronómico, no visível, mais avançado do mundo. O ESO é o parceiro europeu do revolucionário telescópio ALMA, o maior projecto astronómico que existe actualmente. O ESO encontra-se a planear o European Extremely Large Telescope, E-ELT, um telescópio de 42 metros que observará na banda do visível e próximo infravermelho. O E-ELT será “o maior olho no céu do mundo”.
Links
- Artigo Científico: http://arxiv.org/abs/0910.1069
Contactos
Patrick Woudt
University of Cape Town
Cape Town, South Africa
Tel: +27 21 650 5830
Email: Patrick.Woudt@uct.ac.za
Danny Steeghs
University of Warwick
Warwick, UK
Tel: +44 (0)2476 573873
Telm: +44 (0)78 45555979
Email: D.T.H.Steeghs@warwick.ac.uk
Margarida Serote (Contacto de imprensa em Portugal)
Rede de Divulgação Científica do ESO
e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço,
Tel: +351 964951692
Email: eson-portugal@eso.org
Sobre a Nota de Imprensa
Nº da Notícia: | eso0943pt |
Legacy ID: | PR 43/09 |
Nome: | V445 Puppis |
Tipo: | Milky Way : Star : Type : Variable : Nova |
Facility: | Very Large Telescope |
Instrumentos: | NACO |
Science data: | 2009ApJ...706..738W |
Our use of Cookies
We use cookies that are essential for accessing our websites and using our services. We also use cookies to analyse, measure and improve our websites’ performance, to enable content sharing via social media and to display media content hosted on third-party platforms.
ESO Cookies Policy
The European Organisation for Astronomical Research in the Southern Hemisphere (ESO) is the pre-eminent intergovernmental science and technology organisation in astronomy. It carries out an ambitious programme focused on the design, construction and operation of powerful ground-based observing facilities for astronomy.
This Cookies Policy is intended to provide clarity by outlining the cookies used on the ESO public websites, their functions, the options you have for controlling them, and the ways you can contact us for additional details.
What are cookies?
Cookies are small pieces of data stored on your device by websites you visit. They serve various purposes, such as remembering login credentials and preferences and enhance your browsing experience.
Categories of cookies we use
Essential cookies (always active): These cookies are strictly necessary for the proper functioning of our website. Without these cookies, the website cannot operate correctly, and certain services, such as logging in or accessing secure areas, may not be available; because they are essential for the website’s operation, they cannot be disabled.
Functional Cookies: These cookies enhance your browsing experience by enabling additional features and personalization, such as remembering your preferences and settings. While not strictly necessary for the website to function, they improve usability and convenience; these cookies are only placed if you provide your consent.
Analytics cookies: These cookies collect information about how visitors interact with our website, such as which pages are visited most often and how users navigate the site. This data helps us improve website performance, optimize content, and enhance the user experience; these cookies are only placed if you provide your consent. We use the following analytics cookies.
Matomo Cookies:
This website uses Matomo (formerly Piwik), an open source software which enables the statistical analysis of website visits. Matomo uses cookies (text files) which are saved on your computer and which allow us to analyze how you use our website. The website user information generated by the cookies will only be saved on the servers of our IT Department. We use this information to analyze www.eso.org visits and to prepare reports on website activities. These data will not be disclosed to third parties.
On behalf of ESO, Matomo will use this information for the purpose of evaluating your use of the website, compiling reports on website activity and providing other services relating to website activity and internet usage.
Matomo cookies settings:
Additional Third-party cookies on ESO websites: some of our pages display content from external providers, e.g. YouTube.
Such third-party services are outside of ESO control and may, at any time, change their terms of service, use of cookies, etc.
YouTube: Some videos on the ESO website are embedded from ESO’s official YouTube channel. We have enabled YouTube’s privacy-enhanced mode, meaning that no cookies are set unless the user actively clicks on the video to play it. Additionally, in this mode, YouTube does not store any personally identifiable cookie data for embedded video playbacks. For more details, please refer to YouTube’s embedding videos information page.
Cookies can also be classified based on the following elements.
Regarding the domain, there are:
- First-party cookies, set by the website you are currently visiting. They are stored by the same domain that you are browsing and are used to enhance your experience on that site;
- Third-party cookies, set by a domain other than the one you are currently visiting.
As for their duration, cookies can be:
- Browser-session cookies, which are deleted when the user closes the browser;
- Stored cookies, which stay on the user's device for a predetermined period of time.
How to manage cookies
Cookie settings: You can modify your cookie choices for the ESO webpages at any time by clicking on the link Cookie settings at the bottom of any page.
In your browser: If you wish to delete cookies or instruct your browser to delete or block cookies by default, please visit the help pages of your browser:
Please be aware that if you delete or decline cookies, certain functionalities of our website may be not be available and your browsing experience may be affected.
You can set most browsers to prevent any cookies being placed on your device, but you may then have to manually adjust some preferences every time you visit a site/page. And some services and functionalities may not work properly at all (e.g. profile logging-in, shop check out).
Updates to the ESO Cookies Policy
The ESO Cookies Policy may be subject to future updates, which will be made available on this page.
Additional information
For any queries related to cookies, please contact: pdprATesoDOTorg.
As ESO public webpages are managed by our Department of Communication, your questions will be dealt with the support of the said Department.