Quatro lasers, quatro camadas do Cosmos

Os quatro lasers do Very Large Telescope (VLT) do ESO apontam para o coração da Via Láctea nesta Fotografia da Semana, onde vemos também a noite estrelada interrompida pelo brilho vertical da luz zodiacal. Esta luz é criada por grãos de poeira do Sistema Solar e é tão ténue que só conseguimos observá-la nos céus mais escuros da Terra, como é o caso dos do deserto chileno do Atacama. O céu noturno imaculado desta região esteve sempre ligado à cultura e às tradições dos seus povos indígenas.

A chakana, ou cruz andina, é um símbolo recorrente nas culturas andinas. Com a forma de uma cruz quadrada escalonada, a chakana representa quatro escadas ou pontes que levam aos níveis superiores da cosmovisão andina.

Para o povo Mapuche do centro-sul do Chile, o céu é o Wenu mapu, uma terra de bondade e ordem habitada por divindades, antepassados e espíritos benignos. O Wenu mapu está ordenado em quatro camadas, onde seres sagrados, como os quatro deuses das estrelas (Meli wanlén) e os quatro deuses da Lua (Meli Kiyén), se opõem às forças do mal que se encontram embaixo. Estas forças opostas entram em conflito na Terra, um mundo natural dividido em quatro direções cardeais, cada uma ligada a diferentes níveis de bondade e maldade.

Os nomes e os pormenores desta visão do Cosmos variam entre as várias tradições andinas, mas uma coisa permanece constante: a crença de que quatro é mais do que um simples número. Quatro representa uma medida de perfeição, já que apenas duas coisas opostas podem trazer equilíbrio. Os quatro lasers do VLT do ESO estão atualmente a fazer avançar a visão que temos do Cosmos, mas, de certa forma, também perpetuam este antigo padrão, ligando-nos, se assim o quisermos e de um certo modo, às crenças da comunidade Mapuche.